terça-feira, 22 de novembro de 2011

Hospital de Base e Hran terão ponto eletrônico para servidores da saúde

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br

Manoela Alcântara

Publicação: 22/11/2011 07:38 Atualização: 22/11/2011 07:41

No Hospital de Base, 33 catracas serão instaladas em todo prédio: registro dos horários de entrada e de saída. Projeto divide opiniões (Breno Fortes/CB/D.A Press)
No Hospital de Base, 33 catracas serão instaladas em todo prédio: registro dos horários de entrada e de saída. Projeto divide opiniões

Médicos, enfermeiros e outros servidores da rede pública de saúde do Distrito Federal terão que registrar a presença no trabalho por meio de ponto eletrônico. As folhas com assinaturas para comprovar os horários de entrada e de saída darão lugar a máquinas que fazem a identificação do funcionário via crachá ou leitura biométrica — que analisa as impressões digitais. As primeiras mudanças ocorrerão no Hospital de Base do DF (HBDF) e no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde as alterações devem ser concluídas até dezembro. No Hospital de Santa Maria (HRSam), o sistema funciona há dois meses. Um estudo a ser realizado pela Secretaria de Saúde definirá a necessidade de cada unidade.

No prédio central do HBDF, algumas catracas já começaram a ser instaladas. Embora ainda estejam cobertas por plásticos, os servidores devem passar a utilizá-las em breve. Na primeira fase de implementação, serão distribuídas 33 roletas de controle de acesso. Elas registrarão a entrada e a saída dos empregados, além de marcar o ponto. A partir da observação do projeto-piloto, o sistema será estabelecido gradativamente em outras unidades. “Ponto eletrônico é uma coisa, controle de acesso é outra. O primeiro será instalado com rapidez em todas as unidades de saúde do DF. O segundo, ocorrerá inicialmente no HBDF e no HRAN e já funciona no HRSam. Esse é um processo mais complicado, por isso, mais demorado de implantar em outros hospitais”, afirmou o secretário de Saúde, Rafael Barbosa.

Para ele, o controle de frequência digital é uma ferramenta de gestão importante para evitar episódios como as recentes denúncias contra médicos que supostamente usam o horário de expediente na rede pública para atender em clínicas particulares. “Foi uma decisão tomada desde o início do governo. A secretaria tem sido muito cobrada com relação a isso. É um sistema que evitará a troca de jornadas”, afirmou o secretário. O serviço será gerenciado por meio de uma parceria entre a secretaria e a empresa responsável pela implantação do ponto eletrônico e do controle de acesso.

A iniciativa divide opiniões. A reportagem do Correio conversou com alguns funcionários do Hospital de Base e percebeu que muitos questionam a necessidade dos aparelhos. Marcos* trabalha na área administrativa e acredita que o dinheiro gasto seria melhor empregado em equipamentos para atender os doentes. Já Camila* acredita que a medida é positiva. “É uma forma até de nos resguardarmos. Poderemos ter um controle maior das horas extras para compensarmos depois”, analisou a enfermeira, que também optou por não ter o nome divulgado.

O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalhaes, endossa em parte as duas opiniões. Para ele, a entidade jamais se oporá a qualquer medida para cobrança de horário. “Existem aberrações no DF de pessoas que querem burlar as regras. A saúde é do povo, não é casa da mãe Joana. Tem que se controlar com mais rigor, sim. Mas não podemos usar isso para tirar do foco as deficiências atuais. Faltam mão de obra, bom atendimento e equipamentos. As condições de trabalho estão precárias e isso também tem que mudar.”

Experiência
As resistências não foram diferentes no Hospital Regional de Santa Maria (HRSam). Quando o controle de acesso foi implementado, há dois meses, o diretor administrativo, Ivan Rodrigues, ouviu diversas reclamações. “Teve muita cobrança. As pessoas questionavam por que somente elas deveriam se submeter ao novo sistema. Agora, elas entendem que a marcação pode ser boa para os dois lados”, disse Rodrigues. No setor em que ele trabalha, é necessário analisar diariamente a frequência dos servidores. Com o ponto, aumentou a facilidade. “Mantivemos a folha e o ponto. Assim, podemos conferir um com o outro.”

Segundo ele, uma situação recente comprovou a eficácia dos equipamentos instalados ainda na gestão da Real Sociedade Espanhola Beneficência. “Eles já utilizavam, nós só reativamos. Há poucos dias, uma médica colocou no papel que tinha feito plantão de 12 horas mas, na verdade, só tinha concluído 10 horas. Verificamos isso pelo meio eletrônico e vamos descontar do salário”, complementou o diretor administrativo.

Investigação
Em setembro deste ano, o Correio divulgou com exclusividade que a Corregedoria da Secretaria de Saúde afastou três servidores do Centro de Saúde 6 do Gama por suspeita de realizarem cirurgia em outros hospitais no horário de expediente. Eles ainda são acusados de extraviar prontuários e forjar estatísticas para completar a carga horária de atendimentos. Se ficar constatada a responsabilidade dos servidores ao fim das investigações, a penalidade será aplicada proporcionalmente ao prejuízo causado, podendo, inclusive, acarretar a demissão do serviço público deles.

A Secretaria de Saúde do DF estuda propostas para reestruturar o plano de cargos e de salários dos profissionais que trabalham nos hospitais públicos da capital federal. A ideia é impedir que médicos aprovados em concursos peçam exoneração do cargo devido à baixa remuneração. O chefe da pasta, Rafael Barbosa, admite que os rendimentos iniciais da categoria são insuficientes para mantê-los nos postos. “Estamos perdendo profissionais para a rede privada. O serviço público deixou de ser atrativo e nós estamos com uma carência grande de pessoal”, enfatizou. A proposta do Sindicato dos Médicos do DF (Sindimédico-DF) é aumentar os ganhos dos profissionais que trabalham 20 horas semanais para R$ 9 mil. Já para os que cumprem escala de 40 horas, a ideia é oferecer salário de R$ 12 mil. Hoje, os médicos recebem, respectivamente, R$ 3,8 mil e R$ 7,6 mil.

Segundo Barbosa, existem, atualmente, 4,6 mil profissionais lotados na secretaria, mas seriam necessários mais 2 mil para prestar um serviço de qualidade. “Vamos estudar uma maneira de manter esses médicos na rede pública. Ainda não temos uma proposta oficial. Tudo está em fase de análise. Em 2012, vamos discutir o será feito”, complementou o secretário. Para definir os valores é preciso aguardar previsão orçamentária e ter aprovação do Executivo para aumentar os gastos com pessoal.

Carreira atraente
Outra medida em análise é a possibilidade de reduzir o tempo de evolução na carreira. Atualmente, um médico só consegue alcançar um salário de R$ 18 mil quando completa 25 anos de serviço. Para a diretora de Imprensa e Divulgação do Sindimédico -DF, Adriana Domingues, o pedido não é apenas de aumento salarial, mas de uma carreira atraente. “Metade das pessoas convocadas no último concurso não assumiu. Outros, depois de entrarem na rede pediram demissão. É preciso estimular esses funcionários, com incentivos de estudo e probabilidade de crescimento”, disse.

Diante do deficit de profissionais, a secretaria fará concurso público no primeiro trimestre de 2012. Além de médicos, a intenção é selecionar técnicos em enfermagem e agentes comunitários. (MA)

* Nomes fictícios

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