segunda-feira, 28 de maio de 2012

Universidade: greve inscrita no calendário

Correio Braziliense      -     27/05/2012



A greve nas universidades federais lembra a Crônica da morte anunciada. Aobra de Gabriel García Márquez conta, nas primeiras linhas, o assassinato do protagonista. A curiosidade do leitor muda de rumo. Sabedor do destino do personagem, não mais lhe interessa descobrir o que aconteceu, mas o como aconteceu. O mesmo ocorre com as instituições de ensino superior mais bem avaliadas do país.

No início de cada ano, tem-se como certa a paralisação das atividades. A questão é descobrir quando. Este ano não foi diferente. Professores de 44 das 59 federais cruzaram os braços. Segundo o Comando Geral de Greve, coordenado pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a tendência é de ampliação das adesões. Santa Maria e Grande Dourados devem abraçar o movimento amanhã.

As reivindicações também se repetem. Os docentes exigem duas providências. Uma: a reestruturação de carreira única, com 13 níveis remuneratórios e variação de 5% entre eles. A outra: a incorporação de gratificações e percentuais relacionados à titularização e ao regime de trabalho. Mais: 14 instituições que integram o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais queixam-se das condições de trabalho. Instituída em 2007, a ampliação dos câmpus não recebeu a contrapartida em salas de aula, laboratórios, bibliotecas, estacionamentos, acesso à internet.

É lamentável e preocupante o descaso com as escolas encarregadas de formar a elite nacional e de qualificar profissionais aptos a responder às necessidades do mercado de trabalho. Para sustentar o crescimento, o país tem de contar com cabeças pensantes e mão de obra sofisticada. No mundo globalizado, cada vez mais competitivo, não há espaço para improvisações. Nem para jeitinhos. O Brasil precisa ter condições de disputar, palmo a palmo, fatias no mercado mundial.

O avanço passa, necessariamente, pela universidade. O teto das exigências de qualidade está cada vez mais alto. Ele puxa o piso. A excelência se impõe, pois, em todos os níveis de ensino. Espera-se que Aloizio Mercadante, oriundo da carreira acadêmica, tenha mais sensibilidade no tocante às urgências dos professores e chegue a acordo capaz de pôr ponto final na crônica da greve anunciada.

De um lado, porque os alunos precisam estudar — e muito. De outro, porque a universidade perde quadros. Instituições privadas, que nem sempre têm compromisso com a qualidade e a pesquisa, oferecem remuneração superior para atrair doutores a fim de atender exigências do MEC. O país não pode abdicar das universidades federais — construídas com competência e idealismo.

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